quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O motoboy que “habita” em nós


Uma das figuras mais estigmatizadas das grandes cidades é o motoboy. Piloto há alguns anos e sei bem o que é isso. Muitas vezes somos hostilizados no trânsito por conta de alguns motoboys que fazem do trânsito das grandes cidades um verdadeiro caos. Mas ao pensar nos motoboys (genericamente falando) me vem à mente que todos nós temos um “habitando” em nós.

Pense bem. Motoboys em geral são imprudentes. Fazem manobras muitas vezes radicais pondo em risco sua vida e de outros no trânsito. Eles não têm limite quando se trata de avançar. Por entre os carros, em corredores, parados ou em movimento, eles avançam, não sem quebrar uma série de leis e trazer prejuízos com retrovisores e pára-choques arrancados violentamente.

Assim também nós, muitas vezes somos imprudentes. Fazemos manobras políticas nos relacionamentos com o próximo, e às vezes com Deus, e assim ferimos a nós mesmos e aos outros. Muitos “crentes” não têm limites quando se trata de avançar. Passando por cima de irmãos, marchando “pró-féticamente”, avançando sobre o “inimigo” (muitas vezes seu companheiro de banco), para alcançar a “benção”, não sem quebrar uma série de mandamentos divinos e trazendo prejuízo à fé dos muitos crentes sinceros.

Mas os motoboys são também de certa forma heróis. Geralmente eles encaram os serviços que nem eu, nem você, estaríamos dispostos a encarar. O que seria de nossas pizzas de fim semana, se não fosse por um motoboy, muitas vezes pai de família, que se dispõem, mesmo que isso represente enfrentar os perigos das ruas às altas horas, debaixo de chuva, para entregá-la quentinha em nossas casas? O que seria de nós sem aquele “famigerado” motoboy que tanto praguejamos na rua, nos momentos que precisávamos daquele remédio e não tínhamos sequer como ir à farmácia? Ele é o cara que se abstêm do próprio conforto para que o nosso seja mantido. É claro que eles têm sua recompensa também. Afinal “digno é o trabalhador de seu salário” (mesmo sendo pouco).

O problema é que esse motoboy geralmente NÃO “habita” em nós. Quantos crentes você conhece que deixa o conforto de sua cama para ir chorar com você quando sua vida parece desabar sobre a sua cabeça à alta madrugada? Quantos “profetas” você conhece que pagam o preço ao invés de receber o preço de uma vida de oração? Quanto tempo você tem tirado para servir ao invés de querer sempre ser servido? Quantos crentes você conhece que “jura com dano próprio e não se retrata” (Slm 15.4)? Quantos você conhece que pensa mais nos outros que em si mesmos? Quantos de nós estamos dispostos a sofrer pelo bem estar dos outros, mesmo que isso signifique receber algo em troca?

Por mais estigmatizados que sejam, temos que reconhecer que o que esses motoboys fazem de ruim trânsito, nós fazemos na igreja, e o que eles fazem que é louvável, não fazemos para com nossos irmãos. É mais ou menos como Paulo diz: “o bem que eu quero não faço, mas o mal que não quero, esse faço”. Que Deus tenha misericórdia de nós.

Marcelo Batista Dias

Ps. 1: O autor fala genericamente. Nem todos os motoboys são assim, assim como nem todos os crentes também.

Ps. 2: Nenhum motoboy foi maltratado neste post.

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