quarta-feira, 29 de abril de 2009

E agora quem poderá nos defender? Parte I


Não, este grito de socorro não veio do México. Ele veio do Paraguai. Um telejornal mostrou neste ultimo domingo (26/04) a desilusão de um povo com seu líder. Uma mulher declarou a respeito do ex-bispo Fernando Lugo, presidente eleito do Paraguai: “Nós votamos em um padre porque achamos que ele poderia nos ajudar, mas o que ele fez nos deixou confusos. Se não podemos confiar em um padre, em quem podemos confiar agora?” . O desabafo desta mulher nos chama a atenção a uma realidade em que vale a pena refletir.

Foi Protágoras (aprox. 492 – 422aC) quem disse que “o homem é a medida de todas as coisas” indicando que todo tipo de estudo epistemológico tem seu ponto de partida e referência no próprio homem. Isso inclui também suas ações. Foi partindo desta visão que surgiu a filosofia humanista do séc. XIX tendo como alguns de seus expoentes Nietzsche (1844 – 1900) e Hegel (1770 – 1831). Acreditou-se por muito tempo que esta era a verdade ultima de todas as coisas. O homem bastava ao homem (entendendo o termo “homem” como sendo a humanidade em geral).

Não demorou muito para que essa “verdade” entrasse em colapso. O pós-modernismo do séc. XX derrubou todo o tipo de absolutismo. Não há verdade absoluta e sim verdades individuais. A partir daí o homem começou a desapontar-se com seu principal referencial – ele mesmo. Isso porque ninguém ainda encontrou no homem uma verdade que pudesse mudar sua situação pessoal e muito menos coletiva. Refiro-me ao fato de que as concepções pessoais que ainda se baseiam no referencial humano se volatilizam à medida que o tempo passa.

A humanidade está, como nunca, mais decepcionada consigo mesma. Falta esperança. Os homens já não bastam aos homens. A verdade é que nunca se bastaram, nunca foram suficientes. O homem não é medida de todas as coisas. O homem não é o ponto de partida para a solução de seus próprios dilemas. O homem não é confiável. E isso porque o homem não tem controle sobre as circunstâncias. Dificilmente tem controle de si mesmo!

O clamor desconsolado dos paraguaios é o clamor do mundo todo. É o clamor por um Salvador. Mas não um homem qualquer. Somente o Filho do Homem pode salvar o homem de si mesmo. Somente o Deus Soberano pode dar ao homem a esperança que ele jamais vai encontrar em si mesmo.

A crença na soberania de Deus, ao contrário do que pensam os humanistas, nos fornece uma base sólida e segura em todas as situações. A convicção do controle providente e soberano de Deus sobre o curso da história nos leva a compreender que não estamos à deriva. Deus conduz com sabedoria e mão forte o leme de nossas vidas. Por isso este é o momento mais propício à pregação da Palavra. Nela temos a revelação deste Deus Todo-Poderoso que tem domínio sobre os mínimos detalhes da historia.

É preciso avisar àquela senhora que neste mundo, entre os homens ela não vai encontrar ninguém perfeitamente confiável. É preciso avisar a ela e ao mundo todo que somente o Deus-Homem, Soberano e Único Senhor pode trazer alento e esperança ao “cansados e sobrecarregados” deste mundo.

Marcelo Batista Dias

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Ele vive! E agora?

“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mateus 28:18-19). Antes de ser assunto aos céus o Senhor Jesus transmitiu uma ordem a seus discípulos. Ordem essa que só poderia ser cumprida mediante a atuação poderosa do Espírito Santo em suas vidas. Contudo o Espírito Santo só poderia ser dado após sua partida, e sua partida para os braços do Pai só aconteceu por causa de sua ressurreição. Com isso chegamos a conclusão de que a Grande Comissão dada por Jesus tem sua origem em sua ressurreição.

A ressurreição de Jesus não nos garantiu apenas consolo, conforto e esperança eternos, mas também nos garantiu trabalho. E muito trabalho, diga-se de passagem. Com Jesus agora ressurreto, cabe a seus discípulos, a maravilhosa e ao mesmo tempo árdua, tarefa de fazer mais discípulos. Maravilhosa por que somos “embaixadores de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio” (I Co 5.20). Árdua por que fazer discípulos é muito difícil.

Conseguir adeptos talvez seja mais fácil, mas fazer discípulos é bem mais trabalhoso. Demanda tempo, dedicação e principalmente muito amor a Deus e ao próximo. É preciso acompanhar de perto o novo convertido. É preciso dar apoio em meio a suas dificuldades, orientá-lo, exortá-lo, enfim caminhar com ele. O outro lado da moeda é que o adepto não tem consistência nem compromisso. Qualquer dificuldade e logo ele abandona o barco nos deixando sozinhos. O discípulo não. Ele aprende conosco que a vida cristã não é fácil. Ele se dispõe a caminhar ao nosso lado. Ele se mantém fiel a Deus e sempre se coloca a disposição para trabalhar na obra do Reino.

O que queremos enfatizar é que Jesus ressuscitou, foi assunto ao céu, mas não nos deixou órfãos nem à toa. Temos muito trabalho a fazer. Temos trabalho como embaixadores, semeadores, orientadores, pregadores, consoladores, enfim, serviço do Reino. O que mais nos conforta é saber que temos o Espírito Santo para nos auxiliar nessa obra. Entretanto é preciso lembrar que temos que dar duro, trabalhar bastante para que o nome de Deus seja glorificado.

Jesus Cristo vive e agora o que nos cabe é trabalhar. Nós somos instrumentos de Deus, auxiliados pelo Espírito Santo para proclamar a obra de Cristo.
Que Deus nos ajude a trabalhar com bastante vigor em Sua obra.

Marcelo Batista Dias
Artigo publicado no boletim da Congregação de Nova Baden, Betim em 19/04/09.

A igreja, o Calvinismo e a Sociedade

O artigo da revista americana TIME(1) que destaca o chamado neo-calvinismo como uma das “10 idéias que estão mudando o mundo”, tem tido uma excelente repercussão no meio reformado. A despeito do tom irônico do autor em alguns momentos, a reportagem é muito boa.

Ficamos felizes ao ver que muitos tem se interessado pelo calvinismo em nossos dias. Há uma migração, ainda que tímida, de algumas pessoas do meio pentecostal para a teologia reformada (calvinista). Isso é muito bom, mas creio que ainda vai levar um tempo para que esta migração surta algum efeito de maior proporção. Isso principalmente porque as igrejas que mantém sua confissão reformada desde o princípio, se perderam na vivência de sua confissão de fé e por isso os que estão chegando agora, não tem nelas um “paradigma perfeito” para a prática do calvinismo.

Estou me referindo ao fato de que nosso calvinismo pouco tem influenciado nossa sociedade. O Rev. Hermisten Costa diz que o calvinista entende que “ser reformado não é apenas um status nominal vazio de sentido, mas reflete a nossa fé em atos de formação e transformação”(2). Ele cita também Kuyper interpretando o pensamento reformado:

“Calvino abomina a religião limitada ao gabinete, à cela ou a igreja. Com o salmista, ele invoca o céu e a terra, invoca todas as pessoas e nações a dar glória a Deus. Deus está presente em toda vida com a influência de seu poder onipresente e Todo-Poderoso e nenhuma esfera da vida humana é concebida na qual a religião não sustente suas exigências para que Deus seja louvado, para que as ordenanças de Deus sejam observadas, e que todo labora seja impregnado com sua ora em fervente e contínua oração”(3).

O problema é que este pensamento tão ardentemente defendido, está sendo relegado apenas ao discurso e muito pouco o vemos na práxis reformada de nossos dias. Quantas de nossas igrejas têm influenciado o sistema de educação de sua região? Quantos reformados nós temos na política de nosso país? Quantas escolas, acessíveis à população de baixa renda, temos sob nossa direção? Quantos de nossos pastores ensinam suas ovelhas a serem crentes sinceros e dedicados não apenas na igreja, mas serem honestos também em seu trabalho diário?

O que percebemos é uma distância entre a igreja, o calvinismo e a sociedade. Uma distância que na realidade jamais deveria existir. Não estou dizendo que não existem reformados práticos em nosso meio. O que estou apenas observando, é que a maioria de nós, é reformado apenas nos limites teóricos.

Das duas uma: ou os benefícios do processo de migração aparecerão lentamente como dissemos, ou nós, os calvinistas mais “antigos”, teremos que nos “reformar” outra vez. O que eu espero sinceramente, é que a começar neste que vos fala, estes imigrantes refugiados do pentecostalismo possam encontrar abrigo e exemplo prático do que é ser verdadeiramente calvinista.

Marcelo B. Dias


(1) Artigo Original: http://www.time.com/time/specials/packages/article/0,28804,1884779_1884782_1884760,00.html
Tradução em http://blog.editorafiel.com.br/2009/03/17/o-novo-calvinismo
(2)Hermisten Costa, Calvino de A a Z. São Paulo: Editora Vida, 2006. pg. 48.
(3)Ibid, pg 49.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Está vazio! Aleluia!

Lucas registra no capítulo 24.12, que Pedro ficou maravilhado ao ver que realmente Jesus havia ressuscitado. Acho que Pedro deve ter exclamado: “Está vazio! Aleluia!”.

O túmulo vazio é nossa esperança. Em nenhuma outra religião pode existir esta esperança. Buda, Maomé, A virgem Maria e todos os outros deuses dos povos, morreram e jamais se levantaram. Jesus Cristo não. Ele ressuscitou. E essa verdade é a nossa maior esperança.

Paulo chega a dizer no capítulo 15 de I Coríntios, que a ressurreição de Cristo é a razão da nossa fé. Ele diz que “se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados”.

Não podemos conceber um Cristo morto. Um Cristo ainda crucificado. Ele ressurgiu e está vivo à destra de Deus Pai, “de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos” como diz o credo apostólico.

A ressurreição de Cristo é a nossa garantia de vida eterna. Ele é a “primícia dos que dormem” (I Co 15.20). Ele é o primeiro de uma geração redimida. Ele é a cabeça do corpo da igreja. O Cristo vivo e vitorioso. O alfa e ômega. O principio e o fim. “Aquele que esteve morto, mas reviveu”.

Aleluia! Podemos nos juntar ao apóstolo Paulo e cantar com a maior de todas as alegrias o belo refrão:
“Tragada foi a morte pela vitória. Onde está ó morte a tua vitória? Onde está ó morte o teu aguilhão?”. (I Co 15. 54b, 55).

Celebre a Cristo! Celebre sua vida! Celebre a Salvação dada por Deus a nós pelo sangue da cruz e celebre intensamente a vida eterna garantida a nós na ressurreição.

O túmulo está vazio! Aleluia!!!!
Marcelo Batista Dias
Artigo publicado no boletim da congregação de Nova Baden, Betim em 12/04/09

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Porque Senhor?


O problema do sofrimento na vida do crente é verdadeiramente uma interrogação. Quando vemos alguém que tem agido de modo ruim em sua vida e sofre por isso, até entendemos. O problema é quando vemos alguém, ou nós mesmos somos esse alguém, que tem vivido um relacionamento pessoal com Deus sofrendo terrivelmente.

Li essa semana um pequeno texto de John Stott que me deu uma nova perspectiva em relação ao sofrimento do crente. Principalmente quando este sofrimento nos leva a questionar se Deus realmente tem bons propósitos para nossa vida. Neste texto, Stott diz que a Escritura no assegura que não sofremos sozinhos. Ele diz que o nosso “Deus, é um Deus sofredor”.

Jesus, o nosso Deus, chorou de dor por causa de Lázaro, a quem muito amava (João 11). Chorou também por causa de Jerusalém e sua ignorância espiritual (Lc 19.40-42). Mas nenhum sofrimento foi maior do que aquele proporcionado pela cruz. Lucas registra o tamanho da angústia e dor que Cristo sofreu antes mesmo da cruz. Segundo Lucas, o “seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lc 22.44).

Por isso diante do nosso quadro de dor, não nos resta outra coisa senão concordar com Stott e nos voltar para “aquela figura solitária, retorcida e torturada na cruz, os cravos atravessando as mãos e os pés, as costas laceradas, os membros deslocados, a fronte sangrando por causa dos espinhos, a boca intoleravelmente sedenta, lançada nas trevas do abandono de Deus”.*

Esse é o nosso Deus! “Ele deixou de lado a sua imunidade à dor. Ele entrou em nosso mundo de carne e sangue, lágrimas e morte. Ele sofreu por nós. Nossos sofrimentos tornam-se mais manejáveis à luz dos seus. Ainda há um ponto de interrogação contra o sofrimento humano, mas em cima dele podemos estampar outra marca, a cruz, que simboliza o sofrimento divino”.*

Quando o sofrimento invadir sua vida, conforte-se na cruz. Nela o nosso Deus sofreu. E eu garanto que o sofrimento dele, supera em quantidade inumerável, o nosso sofrimento. Nada pode medir o tamanho da dor de Cristo no Calvário. Lembre-se do cântico: “Não saberei quanto custou, ver meus pecados pagos na cruz”, e console o seu coração.

Sei que responder a pergunta do título não é fácil, mas sei que o meu Senhor sabe mais do que eu o que é sofrer.

Que Deus nos abençoe e nos console sempre na cruz de Cristo.

Marcelo B. Dias

Artigo publicado no boletim da congregação de Nova Baden, Betim em 05/04/09
* Texto extraído do livro: A cruz de Cristo; de John Stott; Editora Vida, São Paulo. Pág. 151.

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