domingo, 22 de dezembro de 2013

Manual de Comemoração do Natal

Talvez você esteja pensando: “Mas não preciso saber de mais nada para comemorar o natal. Basta saber que é Natal! Não precisa de manual!”. Mas... você sabe o que é comemorado no Natal? “Dã! O nascimento de Jesus”- você diz. Mas você sabe realmente o que significa o nascimento de Jesus? Não? Você precisa entender algumas coisas para comemorar o Natal de forma correta. Deixa o evangelho de João te ajudar.

Deus/homem: Um ato de humilhação: João 1.1,2 e 14 - Significa que Deus, o grande criador do céu e da terra, Aquele que de quem tudo existe e depende para existir, o grande Senhor, soberano, Deus, o Filho “se fez carne e habitou entre nós”. O criador se fez criatura. O Senhor se fez escravo. O riquíssimo se fez pobre, não apenas se vestiu de pobre, mas se fez pobre. O Todo-Poderoso se fez fraco. Isso é humilhação. No nascimento de Jesus não ouve festa, músicas, ninguém reuniu a família e os amigos para comer canja, nada. Apenas mugidos, balidos, moscas, e um cheiro de excremento naquele curral. A única festa foi dos anjos ao avisar os pastores no campo. Isso não significa que temos que tratar o natal como um funeral, mas que temos que respeitar e entender o fato de que Deus se fazer carne é um ato de grande humilhação. Mas porque ele se humilhou tanto?

Homens em trevas: João 1.6-13: João Batista nasceu para anunciar Jesus, que é a “verdadeira luz que vinda ao mundo ilumina todo homem”. Ou seja, Jesus nasceu porque o homem estava (e ainda está) em trevas. Estas trevas são tão densas que o ser humano não consegue enxergar corretamente nem a si mesmo, nem a Deus. Nenhum um palmo na frente do nariz. Por causa dessas trevas o homem se acha muito melhor do que de fato ele realmente é. Por isso Jesus foi rejeitado. Rejeitado por aqueles que, se esperava, o amassem e o honrassem: seu povo, os judeus, em primeira instância, e os demais homens em uma segunda instância (se entendermos que todos que foram criados por ele, lhe pertencem por direito de criação, são suas criaturas). Mas aqueles, e apenas aqueles, que são iluminados por Ele, e creem, por Sua própria vontade e não dependendo de alguma coisa que fizerem de bom para isso, é que recebem o status de “filhos de Deus” e passam a ser seus de direito por adoção. E é assim somente que o homem em trevas pode enxergar a si mesmo e a Deus – João 1.18.

A luz que acende com sangue: João 1.29: Mas como Jesus ilumina o homem? O que ele faz? Ele se sacrifica e é sacrificado pelo Pai para eliminar a grande nuvem que encobre Sua luz de nós – o pecado. Para isso, Ele nasceu como cordeiro, como sacrifício, para a cruz, para ser sacrificado. No tempo de João as pessoas criam que deuses podiam vir ao mundo e se misturar com os homens. Mas nenhum deus grego seria um cordeiro, um sacrifício pelos homens. Ao contrário. Na mitologia grega em geral os deuses são iracundos, vingativos, exploradores dos homens. Mas Jesus não. Ele é o Deus único e verdadeiro, princípio de tudo que existe e nasce para morrer pelos homens que o ofenderam e pecaram contra Ele. Jesus traz luz ao homem. Uma luz que se acende com sangue.

A escada para o céu: João 1.43-51: Mas para quê Jesus fez isso? Para ser a única escada de acesso a Deus. Você leu direito, “para ser”. Jesus não veio para nos apontar a escada, nos levar até ela, nos dar um plano de como construir a escada. Ele veio para SER a escada. De tal forma que a única comunicação que há entre o céu e a terra é por meio de Jesus, e de mais ninguém. A única forma de chegar a Deus é por meio de Cristo. Por meio de um relacionamento profundo com Ele, estando Nele, vivendo para Ele e por Ele.
Enfim... só tem sentido você comemorar o Natal como Natal de verdade se você entender isso. Se não, a única coisa que você vai fazer é passar mais um feriado com sua família, comer e beber e nada mais. Não podemos desassociar o nascimento de Cristo de sua vida e obra. Sem a cruz, a manjedoura não tem sentido. E se “seu Cristo” é o menino de Belém, você pode estar na mais densa escuridão, ainda.

Feliz Natal.
Marcelo Batista Dias

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Como nossos pais

Eu gosto de MPB. Não sou um ouvinte assíduo, mas admiro algumas músicas do nosso vasto repertório nacional, especialmente daquela geração dos anos 70 e 80. Uma destas músicas é “Como nossos pais” de Belchior, que ficou famosa na voz de Elis Regina.
A parte que mais me chama a atenção na música, é o coro que diz: “Minha dor é perceber, que apesar de termos feito tudo o que fizemos; ainda somos os mesmos e vivemos, ainda somos os mesmos, e vivemos como os nossos pais”.
Ela me chama a atenção para o fato de que, não adianta avanço tecnológico, social, econômico, intelectual, ainda somos os mesmos e cometemos os mesmos erros do passado.
O ser humano não muda, exceto pelo seu contexto sócio-econômico-cultural. Essencialmente continua sendo o mesmo. Buscando uma satisfação, uma razão de ser, algo que vá além daquilo que ele tem no momento. Uma distração, um disfarce, algo que lhe faça superar a sensação de fracasso e desespero.
Na época de Belchior e Elis era a luta pela liberdade de expressão. Em 1976, época da composição da música, a ditadura militar no Brasil reprimia toda expressão cultural livre que criticava o regime. Alguns foram mortos outros exilados por causa de sua arte e crítica ao sistema.
Em nossos dias é o culto ao entretenimento, à diversão. A busca pela emulação dos sentidos, pela produção de sensações, sem limites, sem pudor, apenas a busca pelo prazer, em nome da liberdade de ação, e livres de qualquer tipo de reação (uma contradição a uma lei básica da física).
Na época de nossos pais, as aspirações podiam ser diferentes (e para mim mais elevadas, superiores), mas a ansiedade é a mesma.
Esta é a dura realidade: vai ano, vem ano, e as pessoas, especialmente os jovens, tanto da minha geração, como das novas gerações, continuam da mesma forma. Buscam satisfação, sentido, cometendo os mesmos erros dos seus antepassados, ou seja, olhando para baixo, para si mesmos, ao invés de olhar para cima, para Deus.
Foi Agostinho quem disse: “Fizeste-nos para ti e inquieta está nossa alma enquanto não repousamos em Ti”. Deus é a única fonte de plena satisfação para o ser humano, que foi criado à Sua imagem e semelhança, que procede de Suas mãos, que possui um fôlego de vida soprado por Ele em suas narinas.
Creio que já passa da hora de nossa geração se despertar para esta realidade. Digo não apenas aqueles que não crêem ou não buscam a Deus, mas inclusive os que se dizem evangélicos, que à semelhança de muitos de nossos antepassados, tem substituído o prazer em Deus e sua glória, pela satisfação das coisas deste mundo.   
Que sejamos ousados em “não ser como nossos pais”, no sentido de que nossa plena satisfação de viver esteja em Deus, na pessoa de Jesus Cristo seu filho que se deu por nós na cruz, para satisfazer por todo sempre essa sede que temos por dentro, na alma.

Marcelo Batista Dias

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A Estrangeira de Cristo

Lição escrita para a Revista Rhêmata, publicada pelo PLVA - 2° Semestre de 2013 - Fundamentada no Livro de Rute.

Em todo romance há um personagem que mexe com o imaginário dos leitores
. Geralmente é aquele que no início da trama sofre as mais difíceis situações. Ele nos cativa e não é raro nos encontrar torcendo para ter um final feliz.
O livro de Rute é como um romance. Um romance primoroso. E que final feliz para vida de Rute e Noemi! Este final feliz que lemos acima faz de Rute um romance único em si, por ser um tipo do “Romance da Graça de Deus”.
Rute, a estrangeira desprezada, é inserida no povo de Deus e se torna ascendente do Redentor. Nenhum autor de novela poderia escrever uma história mais impactante que esta história escrita e dirigida pelo Senhor nosso Deus. Uma história com a qual identificamos nossa própria redenção.

1.   O começo angustiante
A história de Rute não podia começar de um modo mais trágico. Casou-se com um forasteiro que se mudou para sua terra. Seu nome era Malom (4.10). Malom significa ‘doente, fraco’, e tendo em vista que os nomes na cultura israelita antiga eram dados em razão de características físicas (Gn 25.25), situações políticas (1 Sm 4.21) ou tragédias familiares (Gn 35.18), não é difícil crer que Malom era um homem realmente doente. Por conta disso talvez, Rute tornou-se viúva ainda jovem. Isso sem contar com a sogra ranzinza.
Você teria coragem de viver ao lado de uma pessoa que lhe dissesse claramente que tudo que pode lhe oferecer é uma vida de amargura e dor (1.13)? Rute teve. Seu coração se apegou tanto a sua sogra que suas palavras viraram uma declaração de amor presente em muitos convites de casamento ao longo da história (1.16).
Que começo de vida difícil! Uma mulher viúva, longe de sua terra natal, vivendo ao lado de uma sogra amargurada (1.20,21), pobre, dependente de esmolas e da boa vontade de um povo que considerava seu povo como inimigo mortal (Jz 3.12).
E é assim que Rute chega a Belém: Humilhada. Mas não pensemos que tal humilhação se deu pelas circunstâncias adversas apenas. Estas podem até ter contribuído razoavelmente. Mas a grande razão de Rute estar assim foi sua própria atitude de auto-humilhação.
Ao contrário de sua co-cunhada, Rute rendeu-se aos pés de Yavé! Debaixo de Suas asas Rute veio buscar refúgio (2.12). Por certo ela ouviu muitos relatos de sua sogra sobre o Deus de Israel. E também ouviu “que o SENHOR se lembrara do seu povo” (1.6). Foi por isso que Rute se dispôs a tal humilhação. Para ela era melhor estar humilhada aos pés do SENHOR do que continuar confortável nas tendas dos falsos deuses de seu povo.
É exatamente assim que começa o romance da Graça de Deus. Ele primeiro desperta os olhos do mais vil pecador. Apresenta-lhe Seu glorioso Ser levando o indivíduo a se prostrar, se humilhar a tal ponto, que prefere sofrer angústias em Sua presença, a viver o falso gozo dos prazeres deste mundo. Foi assim que fomos confrontados com nossa própria realidade e chegamos totalmente humilhados aos pés do Senhor.     

2.   Um desenrolar inesperado
Tal atitude de Rute trouxe sobre ela algo que nem mesmo sua sogra esperava que pudesse acontecer. Todo o povo de Belém se compadeceu de tal maneira de Noemi e Rute que as portas se abriram para elas.
Já no primeiro dia de trabalho ela entra “por acaso” nos campos dum tal de Boaz que, depois de ouvir da boa fama da moça, acolheu-a e deu ordens aos servos para protegê-la e favorecerem-na na colheita (2.15,16).
O resultado foi tão surpreendente que sua sogra se espantou: “Onde colheste hoje? Onde trabalhaste?” (2.19). Na resposta da moça Noemi reconheceu a mão graciosa e beneficente do SENHOR. Tanto que insistiu com ela que não deixasse de atender às recomendações do homem e ficasse sempre com suas servas (2.22).  
A fama de Rute correu a cidade (3.11). E aquela moça estrangeira que tinha tudo para ser alvo de preconceito e desprezo era reconhecida como mulher virtuosa e recebida entre as servas de um bem conceituado fazendeiro israelita.
Quem imaginaria que uma moabita gozaria de reconhecimento no meio de israelitas!? Uma mulher ser valorizada por uma cidade inteira e ser reconhecida como virtuosa?! Somente o Deus da Graça poderia conduzir as coisas por tal caminho.
É assim que no romance da Graça os pecadores humilhados são tratados com especial honra e carinho. É assim que aqueles que são escravos do pecado são libertos do seu tirano senhor, e adquiridos como escravos do Bom e Justo SENHOR de toda Terra! E assim sendo feitos escravos de Deus, gozam de um status glorioso juntamente com Seus demais servos. Foi assim que de escravos do pecado e do mundo, tomamos parte no povo de Deus.

3.   Um desfecho glorioso  

Mas se Rute e Noemi já podiam estar surpresas com o que estava acontecendo, quanto mais com o que estava por vir!
Noemi com toda sua perspicácia, experiência, e sob a orientação da Lei do Senhor (Dt 25.5-10) resolve que fazer o possível para que Rute constitua uma nova família. Ela orienta a moça a procurar Boaz e avisar-lhe sobre seu direito de resgatá-la.
Diante das noticias dadas pela moça, Boaz se pôs a serviço para conseguir o que ele também queria – ter aquela valorosa mulher como sua esposa. Ao ser surpreendido pela moça (3.9-15) aquele homem se dispõe e envida todos os esforços para resolver a situação ainda no mesmo dia (3.18).
E lá foi o homem trabalhar. Procurou o outro resgatador, informou-lhe do resgate, do preço e da condição de resgatar também a viúva Rute. Ele ajuntou os anciãos da cidade e resolvida a questão, acertou o resgate – Rute será sua esposa!
Quem jamais poderia imaginar! Não bastasse ter sido recebida com carinho e apreço pelo povo de Belém, a estrangeira agora é parte da família! E não apenas parte da família de Jacó, ela é parte da família do Redentor Jesus Cristo! Que glorioso desfecho!
É assim também no romance da Graça! Nele pecadores arrependidos e auto-humilhados não encontram apenas uma boa recepção. Não são apenas recebidos como escravos do bom SENHOR. Eles são feitos Seus filhos! (Jo 1.12).
É assim que estrangeiros, gentios, alheios às alianças, estranhos às promessas, sem Deus no mundo, mortos nos seus pecados, são resgatados e unidos de tal forma ao Cristo redentor, que são agora família de Deus! (Ef 2.11-22).
Foi assim que nós fomos feitos filhos de Deus (Jo 1.13)!

Conclusão:  
Dizem por aí que a arte imita a vida. Mas no romance da Graça, a arte do Escritor é que cria a vida. O romance de Rute é um tipo do romance da Graça. Não é fictício, não é mera coincidência, é a mais deliciosa realidade.
Rute nos remete a lembrança ao nosso estado anterior de desgraça total perdidos num mundo doente, mortos em nossos pecados. Foi assim que sem esforço algum, sem que estivéssemos buscando, fomos apresentados ao SENHOR criador de todas as coisas e fomos levados em humilhação à sua presença.
Em chegando lá fomos tratados com indulgência ímpar. E não apenas fomos bem recebidos, mas nos tornamos parte da Família! Fomos comprados por preço como escravos, mas fomos feitos filhos! Maravilhosa Graça de Deus!

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