Lição escrita para a Revista Rhêmata, publicada pelo PLVA - 2° Semestre de 2013 - Fundamentada no Livro de Rute.
Em todo romance há um personagem que mexe com o imaginário
dos leitores
. Geralmente é aquele que no início da trama sofre as mais difíceis
situações. Ele nos cativa e não é raro nos encontrar torcendo para ter um final
feliz.
O livro de Rute é como um romance. Um romance primoroso. E
que final feliz para vida de Rute e Noemi! Este final feliz que lemos acima faz
de Rute um romance único em si, por ser um tipo do “Romance da Graça de Deus”.
Rute, a estrangeira desprezada, é inserida no povo de Deus e
se torna ascendente do Redentor. Nenhum autor de novela poderia escrever uma
história mais impactante que esta história escrita e dirigida pelo Senhor nosso
Deus. Uma história com a qual identificamos nossa própria redenção.
1. O começo angustiante
A história de Rute não podia começar de um modo mais
trágico. Casou-se com um forasteiro que se mudou para sua terra. Seu nome era
Malom (4.10). Malom significa ‘doente, fraco’, e tendo em vista que os nomes na
cultura israelita antiga eram dados em razão de características físicas (Gn
25.25), situações políticas (1 Sm 4.21) ou tragédias familiares (Gn 35.18), não
é difícil crer que Malom era um homem realmente doente. Por conta disso talvez,
Rute tornou-se viúva ainda jovem. Isso sem contar com a sogra ranzinza.
Você teria coragem de viver ao lado de uma pessoa que lhe
dissesse claramente que tudo que pode lhe oferecer é uma vida de amargura e dor
(1.13)? Rute teve. Seu coração se apegou tanto a sua sogra que suas palavras
viraram uma declaração de amor presente em muitos convites de casamento ao
longo da história (1.16).
Que começo de vida difícil! Uma mulher viúva, longe de sua
terra natal, vivendo ao lado de uma sogra amargurada (1.20,21), pobre,
dependente de esmolas e da boa vontade de um povo que considerava seu povo como
inimigo mortal (Jz 3.12).
E é assim que Rute chega a Belém: Humilhada. Mas não
pensemos que tal humilhação se deu pelas circunstâncias adversas apenas. Estas
podem até ter contribuído razoavelmente. Mas a grande razão de Rute estar assim
foi sua própria atitude de auto-humilhação.
Ao contrário de sua co-cunhada, Rute rendeu-se aos pés de
Yavé! Debaixo de Suas asas Rute veio buscar refúgio (2.12). Por certo ela ouviu
muitos relatos de sua sogra sobre o Deus de Israel. E também ouviu “que o
SENHOR se lembrara do seu povo” (1.6). Foi por isso que Rute se dispôs a tal
humilhação. Para ela era melhor estar humilhada aos pés do SENHOR do que
continuar confortável nas tendas dos falsos deuses de seu povo.
É exatamente assim que começa o romance da Graça de Deus.
Ele primeiro desperta os olhos do mais vil pecador. Apresenta-lhe Seu glorioso
Ser levando o indivíduo a se prostrar, se humilhar a tal ponto, que prefere
sofrer angústias em Sua presença, a viver o falso gozo dos prazeres deste
mundo. Foi assim que fomos confrontados com nossa própria realidade e chegamos
totalmente humilhados aos pés do Senhor.
2. Um desenrolar inesperado
Tal atitude de Rute trouxe sobre ela algo que nem mesmo sua
sogra esperava que pudesse acontecer. Todo o povo de Belém se compadeceu de tal
maneira de Noemi e Rute que as portas se abriram para elas.
Já no primeiro dia de trabalho ela entra “por acaso” nos
campos dum tal de Boaz que, depois de ouvir da boa fama da moça, acolheu-a e
deu ordens aos servos para protegê-la e favorecerem-na na colheita (2.15,16).
O resultado foi tão surpreendente que sua sogra se espantou:
“Onde colheste hoje? Onde trabalhaste?” (2.19). Na resposta da moça Noemi
reconheceu a mão graciosa e beneficente do SENHOR. Tanto que insistiu com ela
que não deixasse de atender às recomendações do homem e ficasse sempre com suas
servas (2.22).
A fama de Rute correu a cidade (3.11). E aquela moça estrangeira
que tinha tudo para ser alvo de preconceito e desprezo era reconhecida como
mulher virtuosa e recebida entre as servas de um bem conceituado fazendeiro
israelita.
Quem imaginaria que uma moabita gozaria de reconhecimento no
meio de israelitas!? Uma mulher ser valorizada por uma cidade inteira e ser
reconhecida como virtuosa?! Somente o Deus da Graça poderia conduzir as coisas
por tal caminho.
É assim que no romance da Graça os pecadores humilhados são
tratados com especial honra e carinho. É assim que aqueles que são escravos do
pecado são libertos do seu tirano senhor, e adquiridos como escravos do Bom e
Justo SENHOR de toda Terra! E assim sendo feitos escravos de Deus, gozam de um
status glorioso juntamente com Seus demais servos. Foi assim que de escravos do
pecado e do mundo, tomamos parte no povo de Deus.
3. Um desfecho glorioso
Mas se Rute e Noemi já podiam estar surpresas com o que
estava acontecendo, quanto mais com o que estava por vir!
Noemi com toda sua perspicácia, experiência, e sob a
orientação da Lei do Senhor (Dt 25.5-10) resolve que fazer o possível para que
Rute constitua uma nova família. Ela orienta a moça a procurar Boaz e
avisar-lhe sobre seu direito de resgatá-la.
Diante das noticias dadas pela moça, Boaz se pôs a serviço
para conseguir o que ele também queria – ter aquela valorosa mulher como sua
esposa. Ao ser surpreendido pela moça (3.9-15) aquele homem se dispõe e envida
todos os esforços para resolver a situação ainda no mesmo dia (3.18).
E lá foi o homem trabalhar. Procurou o outro resgatador,
informou-lhe do resgate, do preço e da condição de resgatar também a viúva
Rute. Ele ajuntou os anciãos da cidade e resolvida a questão, acertou o resgate
– Rute será sua esposa!
Quem jamais poderia imaginar! Não bastasse ter sido recebida
com carinho e apreço pelo povo de Belém, a estrangeira agora é parte da
família! E não apenas parte da família de Jacó, ela é parte da família do
Redentor Jesus Cristo! Que glorioso desfecho!
É assim também no romance da Graça! Nele pecadores
arrependidos e auto-humilhados não encontram apenas uma boa recepção. Não são
apenas recebidos como escravos do bom SENHOR. Eles são feitos Seus filhos! (Jo
1.12).
É assim que estrangeiros, gentios, alheios às alianças,
estranhos às promessas, sem Deus no mundo, mortos nos seus pecados, são
resgatados e unidos de tal forma ao Cristo redentor, que são agora família de
Deus! (Ef 2.11-22).
Foi assim que nós fomos feitos filhos de Deus (Jo 1.13)!
Conclusão:
Dizem por aí que a arte imita a vida. Mas no romance da
Graça, a arte do Escritor é que cria a vida. O romance de Rute é um tipo do
romance da Graça. Não é fictício, não é mera coincidência, é a mais deliciosa
realidade.
Rute nos remete a lembrança ao nosso estado anterior de
desgraça total perdidos num mundo doente, mortos em nossos pecados. Foi assim
que sem esforço algum, sem que estivéssemos buscando, fomos apresentados ao
SENHOR criador de todas as coisas e fomos levados em humilhação à sua presença.
Em chegando lá fomos tratados com indulgência ímpar.
E não apenas fomos bem recebidos, mas nos tornamos parte da Família! Fomos
comprados por preço como escravos, mas fomos feitos filhos! Maravilhosa Graça
de Deus!
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