No segundo semestre de 2007, minha esposa e eu, vivemos entre dois choros. Tivemos dois momentos marcantes em nossas vidas em que as lágrimas romperam os diques que as continham e se precipitaram por nossas faces.
O primeiro deles foi quando fizemos o exame de gravidez e deu positivo. Desabamos em lágrimas. Mas ao contrário do que se possa pensar foram lágrimas de angústia. Não tínhamos recurso algum. Eu, um seminarista vivendo da ajuda de custo numa amada igreja e ela recebendo praticamente salário mínimo. Nossa renda mensal era suficiente apenas para nossas poucas despesas mensais. Não bastasse isso havia o sentimento de medo, afinal, era um filho e definitivamente não estávamos preparados para isso. Preparávamos-nos para depois que me formasse. Esperávamos adquirir uma condição mais favorável em todos os sentidos. Foram alguns dias de profunda angústia e choro.
O segundo momento aconteceu quando, já esgotados e incapazes, nos rendemos a Deus. Assentamo-nos ao redor de nossa mesa na cozinha e derramamos diante dEle nossas almas. Rasgamos o coração e expomos ante Seus olhos o que estava dentro de nós. Não posso explicar o que aconteceu a seguir, apenas relatar. Um sentimento de paz indescritível encheu nosso coração. Uma voz doce e suave, ainda que não audível, falou em nosso coração dizendo: “Vocês não têm o que temer, Eu estou no controle. Não foram vocês que fizeram essa criança, Eu a fiz e como tal, vou cuidar dela e de vocês”. Mais uma vez as lágrimas desceram sem serem convidadas. Sentimo-nos em nosso devido lugar – o de criaturas dependentes de seu Criador. Depois disso a vida correu livre, leve e solta. Com seus problemas normais, mas com a leveza de quem é levada pelas Mãos que a criou.
É por isso que no dia 12 deste mês eu apresentei meu filho ao batismo. Não por um ritual religioso. Não por uma obrigação confessional. Mas por gratidão e amor a Quem o criou. Não podemos imaginar nossa vida sem o Nícolas. Não podemos imaginar nossa vida com ele e sem aquele segundo momento. Deus nos deu esta preciosa herança. É dEle. Nada mais justo e grato do que reconhecê-lo como parte da Aliança Eterna de Deus conosco em Cristo, e nos comprometermos em zelar pelo seu ensino nos caminhos do Senhor. Ele é do Senhor ao Senhor o oferecemos.
Creio no Deus da Aliança. No Deus que prometeu desde os tempos eternos constituir para si um povo de todas as línguas, povos e nações. Pela Graça de Deus, eu e minha família fazemos parte deste povo. Creio no batismo como selo desta aliança e por isso, assim como Abraão por obediência e fé circuncidou Isaque, minha esposa e eu batizamos nosso filho: na esperança eterna de que Deus é fiel às Suas promessas [1] . Entendo que no devido tempo ele deverá tomar sua decisão pessoal. Este ato batismal não garante para ele a salvação. É apenas o reconhecimento da ação soberana de Deus em nós e a confirmação pela fé de que “eu e minha casa serviremos ao Senhor”.
Respeito muito quem não concorda com o batismo infantil. No entanto quem não o faz, infelizmente, perde o prazer de sentir o que eu senti. Posso dizer por experiência própria que fazê-lo é maravilhoso e grato. É reconhecer para com Deus que Ele nos deu uma nova vida de uma vida nova.
Marcelo Batista Dias
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