quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Sobre fantasias e desejos


“As fantasias precisam ser irrealistas, porque no momento, no instante em que vocês tiverem o que procuram desistem, não vão mais querer aquilo. Para poder continuar existindo, o desejo precisa ter seu objeto eternamente ausente, não é aquilo que vocês querem é a fantasia daquilo então o desejo sustenta fantasias impossíveis”.


Estas palavras foram retiradas do filme “A vida de David Gale”. O filme de Alan Parker é instigador e valioso para as meditações éticas. Estas palavras fazem parte do pressuposto de vida de David, (vivido pelo ator Kevin Spacey) e que vão se mostrar a razão de seu martírio final.


O que mais me impressiona nessas palavras atribuídas ao ensino de Lacan, é a sua semelhança à realidade da sua prática na vida de muitos cristãos de hoje. Para os adeptos da teologia da prosperidade elas são fundamentais. É exatamente isso que os exploradores da fé exploram. Eles sabem que enquanto essa massa incauta tiver desejos, mais eles têm o que explorar. E quanto menos desejos e sonhos ela alcança melhor para seus cofres e bolsos. Por isso eles instigam seus desejos através das ofertas “miraculosas” e às vezes esdrúxulas.


Agora pensemos: Se Deus realmente atendesse a todos os desejos, sonhos, propósitos do nosso coração será que manteríamos nossa fidelidade à Ele? Não é assim que vivemos todos – de desejo em desejo? Não são nossos sonhos e propósitos que nos movem? Infelizmente é exatamente assim. Condenamos os exploradores e os explorados por essa vida medíocre, mas quem de nós pode atirar a primeira pedra? Quem nunca se pegou vivendo por desejos e fantasias? Por isso a segunda declaração se faz altamente importante:


“Viver pelos desejos nunca vai trazer felicidade. O significado de ser inteiramente humano é se esforçar para viver por idéias e ideais e não medir suas vidas por aquilo que ganharam em termos de desejo”.


Eu pergunto: não é isso que Salomão quis dizer com “vaidade de vaidades tudo é vaidade”? Ele diz no final de seu livro: “De tudo o que se tem ouvido a suma é: teme a Deus e guarda os seus mandamentos, pois isso é o dever de todo homem”.


Assim, o cristianismo é mais que uma relação de reciprocidade entre nós e Deus. É mais do que uma relação de barganha do tipo “toma-lá-da-cá”. É uma relação de entrega total do eu a Ele. É um amoldar pleno aos Seus ideais revelados na Escritura.


Por isso devemos viver pelos ideais de Deus e não pelas dádivas de Deus. Não são nossos desejos que devem nos mover em direção à Ele e sim suas palavras, seu plano e projeto eternos. Até porque, o que de material podemos receber dele aqui, por aqui vai ficar. No entanto Seu ideal de uma vida eterna e plena, de um relacionamento duradouro esse sim, vai durar para sempre. E por esse vale a pena viver.


Marcelo Batista Dias

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