quarta-feira, 22 de abril de 2009

A igreja, o Calvinismo e a Sociedade

O artigo da revista americana TIME(1) que destaca o chamado neo-calvinismo como uma das “10 idéias que estão mudando o mundo”, tem tido uma excelente repercussão no meio reformado. A despeito do tom irônico do autor em alguns momentos, a reportagem é muito boa.

Ficamos felizes ao ver que muitos tem se interessado pelo calvinismo em nossos dias. Há uma migração, ainda que tímida, de algumas pessoas do meio pentecostal para a teologia reformada (calvinista). Isso é muito bom, mas creio que ainda vai levar um tempo para que esta migração surta algum efeito de maior proporção. Isso principalmente porque as igrejas que mantém sua confissão reformada desde o princípio, se perderam na vivência de sua confissão de fé e por isso os que estão chegando agora, não tem nelas um “paradigma perfeito” para a prática do calvinismo.

Estou me referindo ao fato de que nosso calvinismo pouco tem influenciado nossa sociedade. O Rev. Hermisten Costa diz que o calvinista entende que “ser reformado não é apenas um status nominal vazio de sentido, mas reflete a nossa fé em atos de formação e transformação”(2). Ele cita também Kuyper interpretando o pensamento reformado:

“Calvino abomina a religião limitada ao gabinete, à cela ou a igreja. Com o salmista, ele invoca o céu e a terra, invoca todas as pessoas e nações a dar glória a Deus. Deus está presente em toda vida com a influência de seu poder onipresente e Todo-Poderoso e nenhuma esfera da vida humana é concebida na qual a religião não sustente suas exigências para que Deus seja louvado, para que as ordenanças de Deus sejam observadas, e que todo labora seja impregnado com sua ora em fervente e contínua oração”(3).

O problema é que este pensamento tão ardentemente defendido, está sendo relegado apenas ao discurso e muito pouco o vemos na práxis reformada de nossos dias. Quantas de nossas igrejas têm influenciado o sistema de educação de sua região? Quantos reformados nós temos na política de nosso país? Quantas escolas, acessíveis à população de baixa renda, temos sob nossa direção? Quantos de nossos pastores ensinam suas ovelhas a serem crentes sinceros e dedicados não apenas na igreja, mas serem honestos também em seu trabalho diário?

O que percebemos é uma distância entre a igreja, o calvinismo e a sociedade. Uma distância que na realidade jamais deveria existir. Não estou dizendo que não existem reformados práticos em nosso meio. O que estou apenas observando, é que a maioria de nós, é reformado apenas nos limites teóricos.

Das duas uma: ou os benefícios do processo de migração aparecerão lentamente como dissemos, ou nós, os calvinistas mais “antigos”, teremos que nos “reformar” outra vez. O que eu espero sinceramente, é que a começar neste que vos fala, estes imigrantes refugiados do pentecostalismo possam encontrar abrigo e exemplo prático do que é ser verdadeiramente calvinista.

Marcelo B. Dias


(1) Artigo Original: http://www.time.com/time/specials/packages/article/0,28804,1884779_1884782_1884760,00.html
Tradução em http://blog.editorafiel.com.br/2009/03/17/o-novo-calvinismo
(2)Hermisten Costa, Calvino de A a Z. São Paulo: Editora Vida, 2006. pg. 48.
(3)Ibid, pg 49.

2 comentários:

Anderson Moraes disse...

Marcelo, já tinha lido sobre o artigo da TIME. Pessoalmente, achei um exagero, pois não vejo um "neocalvinismo" tão influente assim, infelizmente.
Concordo inteiramente com a visão do Kuyper, de que Deus é Senhor sobre TODA a nossa vida e que, portanto, TODAS as minhas escolhas e ações devem estar orientadas a Ele.
Contudo, eu, também como um "imigrante refugiado do pentecostalismo", me preocupo que o "neocalvinismo" seja colocado em prática no Brasil á moda de alguns neopentencostais, isto é, mediante imposição legal de nossos valores.A "bancada evangélica", quando não está envovida em desvio éticos, se dedica a beneficiar exclusivamente igrejas evangélicas e à imposição de valores que são somente seus.
Acredito que a visão kuyperiana não se confunde com uma tentativa de imposição de nosso entendimento cristão, mas sim na fidelidade a este -- o que exclui, incluvise, a intolerância.

Marcelo disse...

Pois é Anderson, o que eu procuro abordar no artigo é exatamente isso - nosso despreparo, pra não falar outra coisa, em indicar como deve ser vivido na pratica o q Calvino disse. Aliás não ele mas a Palavra de Deus, pois o q ele fez foi apenas identificar isso e expor de forma mais sistemática e clara.
Abrçs.

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