quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Reformando a Igreja do Séc. XXI.

Como sabemos é notório o estado caótico a que o evangelicalismo brasileiro levou a igreja chamada protestante. Há um consenso entre boa parte dos cristãos sérios de que a igreja precisa ser reformada urgentemente. Quero neste artigo apontar algumas atitudes que devemos tomar se realmente estamos dispostos a esta reforma.

Nossa meditação se baseia em Neemias 1. 1-11.
Neemias foi um dos personagens de grande destaque na história das reformas empreendidas por Deus no povo de Israel.

O contexto da narrativa que lemos é o retorno em etapas do povo de Israel do cativeiro, agora sob o Império Persa.
A história registra que estes acontecimentos se deram entre os anos de 445 e 432 antes de Cristo.
Havia se cumprido o tempo previsto de 70 anos para o fim do cativeiro, e uma parte do povo havia retornado à Jerusalém por causa do decreto do rei Ciro, liderados por Esdras.

Neste contexto Neemias:

1.Toma consciência da decadência de seu povo: v. 1-4a
O texto no informa Neemias estava na cidadela de Susã que era a casa de inverno dos reis persas e o v. 11 nos informa que Neemias era copeiro do rei. Estes dados nos indicam que Neemias possuía um posição social elevada. Ser copeiro do rei significava estar bem próximo deste e possuir uma intimidade e liberdade concedida a poucos em um império como o Persa.

Neemias busca tomar conhecimento do estado de Jerusalém.
O v. 2 nos mostra que ele procurou saber sobre Jerusalém. Seu coração já o incomodava a respeito, ele já estava preocupado com sua terra natal.
Ele tinha conhecimento dos decretos de Ciro e Dario que davam autorização e subsídios para a reconstrução da cidade.
Ele sabia que Esdras estava lá há 13 anos mas não sabia como estavam as coisas por lá, qual era a real situação do povo.

As notícias não foram boas. Possivelmente Neemias não esperava o impacto que levou com a notícia. Neemias chorou e lamentou por dias a situação do seu povo. Ele ficou verdadeiramente impactado pela situação do povo de Deus.

Meus irmãos nossa situação como igreja de Deus hoje não é diferente.
O povo de Deus está assolado. Nossas portas foram arrombadas e queimadas.
Nossos jovens estão sendo levados cativos pela “Babilônia”, o mundo de nossos dias. Estão servindo ao deus consumismo, ao deus prazer. O povo está morrendo à mingua espiritualmente por falta do verdadeiro Alimento – a Palavra da Deus.

Muitas vezes achamos que estamos imunes. Sentimos como se estivéssemos no palácio do Rei e que não temos nada a ver com o restante do povo de Deus que está na situação vergonhosa que está. O problema é que somos povo de Deus e assim as misérias de nossos irmãos são também nossas misérias.

Neemias sabia disso por isso reagiu de forma tão quebrantada ao saber do estado de seu povo. Ele também era Israelita por isso os problemas do seu povo eram também seus problemas.

Até quando vamos fingir que está tudo bem?
Até quando vamos ignorar o estado de decadência espiritual que estamos inseridos?
Nosso tempo exige uma reforma que começa por tomarmos esta consciência – a consciência de que estamos em meio a ruínas.

2.Neemias reconhece que ele e o povo são culpado desta decadência: v. 4b - 8

Neemias não se entristeceu com a ruína de Jerusalém apenas porque esta era sua terra natal. Nem tão pouco sua dor foi por causa apenas do povo que ali estava.
Neemias se entristeceu por causa da condição espiritual de Judá.

Jerusalém era a capital da nação mediadora do pacto. Jerusalém simbolizava a relação pactual entre Deus e seu povo. Nela estava o templo, que Deus chama de “casa que se chama pelo meu nome”.

Deus havia estabelecido seu relacionamento pactual especialmente com a casa de Judá – (Gn 49.8-12). A capital Jerusalém foi escolhida para sediar o Reino. Neemias reconhece que toda aquela condição de miséria estava ocorrendo por que Judá se esqueceu dos seus compromissos pactuais. Em sua oração ele deixa bem claro que ele e seu povo haviam quebrado a aliança que Deus havia estabelecido. Ele cita no v. 8 o texto de Levítico 26.33.

O mais interessante é que além de se incluir na oração, ele usa o tempo verbal no presente – “temos” – indicando que aquela não era uma situação do passado mas era muito atual.Isso se explica porque apesar de o templo em Jerusalém estar reconstruído a vida espiritual do povo ainda estava desregrada. Os turnos sacerdotais foram restabelecidos por Esdras mas não estavam funcionando a contento.O povo vivia uma vida de usura e envolvido em casamentos mistos. A lei foi lida apenas 7 meses depois de sua chegada em Jerusalém (8.1). Neemias então confessa que tudo aquilo que estava acontecendo era por causa da rebeldia pactual do povo de Deus inclusive dele.

Meus irmãos como estamos longe do ideal verdadeiro de relacionamento com Deus.
Não há mais na dispensação do evangelho, um lugar sagrado, um centro de adoração, por que o Espírito Santo habita em nós e nós somos o templo do Espírito como diz Paulo aos Coríntios.

O problema é que nosso templo está de pé, mas nosso culto não é verdadeiro, não é sincero. Nosso coração e nossa cervical estão enrijecidos e não se dobram mais diante de Deus.

Tiago nos mostra em sua carta que o verdadeiro culto a Deus é prático, é vivido e não apenas falado ou cantado liturgicamente.

A culpa do estado em que estamos é nossa. Nós nos afastamos de Deus. Nós trocamos o relacionamento pactual com Deus pelos prazeres da vida cotidiana. Nós fazemos parte da familia da Aliança, mas nossas familias estão cada vez mais longe do ideal de relacionamento. Não diálogo entre pais e filhos. Não mais compromissos com o relacionamento com Deus.Deus é o segundo lugar em nossas prioridades.

O Dr. Van Gorningen em seu Livro “A Família da Aliança” começa mostrando que a familia é a celula principal do pacto e não a igreja. É na família que encontramos a perfeita analogia do relacionamento de Deus com seu povo. E cada dia que passa isso tem se perdido em nosso meio.

O estado de decadência da igreja hoje é culpa nossa.Nós perdemos de vista a razão de nossa existencia.Nós nos esquecemos qual a finalidade porque Deus nos pôs aqui.
Uma verdadeira reforma exige que reconheçamos isso diante de Deus.

3. Neemias reconhece que só Deus pode tirar o povo de tal decadência: v. 9 – 11;

Foi exatamente esta a atitude de Neemias. Após tomar consciência do estado do povo e dele mesmo e depois de reconhecer que tudo aquilo era resultado da quebra do relacionamento pactual, Neemias recorre ao único que poderia restaurar aquela situação – Deus. Em sua oração ele reconhece que apenas Deus poderia mudar aquela situação. Deus era o autor do pacto e apenas o próprio autor pode restaurar ou renovar o pacto rompido. Em Gênesis 15 vemos o caráter monergístico, ou seja unilateral do pacto de Deus com Abraão. Isso fica explicito em Jonas 2.9 “Ao Senhor pertence a salvação”.

Apenas Deus pode restaurar seu povo.
Neemias reconhece:
“TEUS servos”
“TEU povo”
“que resgatastes com TEU poder”
“TEUS ouvidos”

Deus é o único que pode nos tirar deste estado. Apenas Deus é soberano em nossa salvação. Nós somos incapazes de nos aproximar de Deus por vontade própria a menos que Deus nos traga para junto de si. É bom lembrar que esta fase que Neemias estava vivendo fazia parte do cumprimento da profecia de Jeremias de que em 70 anos o povo seria liberto do cativeiro. Era Deus quem estava começando o trabalho de restauração do seu povo. Neemias estava sendo apenas um instrumento nas mãos de Deus e ele mesmo reconhece isso dizendo sempre que “a boa mão do meu Deus era comigo”. No entanto para isso precisamos orar.

No vers. 1 temos que Neemias tomou conhecimento da situação no mês de quisleu, mas apenas no mês de nisã foi que ele teve a oportunidade de conversar com o rei.
Neemias orou e jejuou durante 4 meses em favor daquela situação a mesma oração. Ele mesmo afirma no ver. 6 que orava “dia e noite”.

Os Moravianos, um dos grupos oriundos da reforma reconhecidos por seu envolvimento missionário, instituiram uma reunião de oração que durou literalmente 100 anos, 24 oras por dia, e o resultado disto foi o evangelho anunciado à Asia, Africa, America do Norte, Europa, países Balticos, Russia e Oriente Médio.

A Reforma que queremos só vai acontecer verdadeiramente nos comprometermos a buscar sinceramente a Deus reconhecendo que só Ele pode nos resgatar desse estado de inércia espiritual em que estamos.

Conclusão:

Meus irmãos a situação da Igreja Evangélica de nossos dias está realmente degradante.
O mundo já não enxerga em nós esperança, diferença. Muitas pessoas estão se afastando da igreja por não acreditarem mais no Deus dos cristãos e nem no seu cristianismo.

Precisamos urgentemente de uma reforma no Séc. XXI.

A boa notícia é que uma vez que compreendemos as coisas que Deus nos ensina neste texto, podemos ver que ainda há esperança para a igreja. Basta que sejamos humildes o suficiente para reconhecermos que estamos em situação degradante, todos nós, todo povo que se chama evangélico. É preciso entender que tudo isto é culpa nossa mesmo. Estamos longe de Deus. Longe do ideal cristianismo resgatado na reforma do Séc. XVI.
Contudo somente Deus pode nos tirar desta. Somente Ele pode resgatar sua Igreja.
A parte que nos cabe nesta empreitada é orar, aproveitar as oportunidades e fazer como Neemias fez.

Enfrentou as barreiras,
Reconstruiu os muros,
Renovou a aliança do povo com Deus,
Se tornou um dos grandes responsáveis pelo retorno do povo ao caminho do Senhor.

Que Deus nos ajude a entender verdadeiramente esta mensagem.
Marcelo Dias

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